O Universo é em sua essência um constante fluir de energia. Já diziam os chineses há mais de 5000 anos, que tudo é polaridade, yin e yang, masculino e feminino, em constante movimento. É só observarmos os aspectos da natureza e facilmente nos daremos conta do que os chineses falavam. Nada é permanente, tudo é movimento, ciclo e mutação. Tanto é que o símbolo, hoje tão conhecido, deste eterno movimento é grafado pelos chineses, como um círculo, onde estão inseridos uma parte preta e outra branca, referência as polaridades e nas quais cada parte ainda contêm um aspecto da outra, ou seja, no “branco” há o preto e vice-versa. Isso quer dizer que nunca nada é totalmente masculino (yang), ou feminino (yin). Pois por mais que haja uma polaridade dominante, há outra sempre presente, mesmo que apenas em potencial não manifesto. E como tudo é eterno movimento e transmutação, as polaridades se alternam num ciclo perpétuo e assim se dá a evolução e o crescimento na natureza.
Estas reflexões, podem nos dizer muito sobre a vida, pois neste mesmo contexto, nós nos inserimos, como parte da vida.
Hoje, em nosso modo de vida e sociedade, pensamos e temos toda uma cultura com seu movimento voltado para os aspectos materiais da existência, ou seja, para uma polaridade. E isto move o mundo hoje. Por outro lado, todos nós sabemos da existência de um “lado espiritual”, ou seja, da existência de outra polaridade. Esta polaridade espiritual é, ou deveria ser o contraponto de nossa existência material, para que assim tenhamos a perspectiva do Todo em nossa vida e de fato, estejamos conscientes de uma existência plena e integral. Mas é fácil constatar, que este último pode ser um elemento de conflito para algumas pessoas.
Por um lado, há os materialistas dogmáticos, ou seja, os que acreditam e se fiam em suas vidas, apenas em um extremo das polaridades. Por outro lado, há os que apenas se dizem “espirituais” e que pautam toda sua vida apenas em outro extremo das polaridades. E se de fato acreditarmos na possibilidade de uma vida equilibrada e nos considerarmos como seres que fazem parte do mesmo movimento existente na natureza, ou no Universo, devemos rever estes aspectos “polares”. Nos lembrar que, mesmo no mundo “material” há o lado sutil, invisível ou espiritual, como preferirmos denominar. Sempre ressaltando, que a referência aqui ao espiritual, não se vincula à crença religiosa, pois esta, cada qual tem a sua. Mas sim com a existência de aspectos mais sutis e sensíveis do que apenas o mundo material, os quais a consciência humana ao longo da história denominou de espirituais e que muitas vezes por falta de entendimento e explicação melhor, os envolveu com todo o tipo de crença religiosa. Podemos exemplificar estas ideias, constatando que agora, neste exato momento, temos milhares de ondas invisíveis nos permeando, sejam de rádio (AM/FM), televisão (inúmeras emissoras), telecomunicações (celulares, satélites), fora os raios cósmicos (UVA, UVB) e partículas elementares (íons, elétrons, neutrinos), para citar apenas poucos exemplos. Se este “mundo invisível” fosse captado de alguma maneira por alguém da Idade Média, antes da adoção da perspectiva científica, certamente seria considerado como algo sobrenatural, ou espiritual. Por outro lado, para alguém que crê apenas em um Universo material, e estiver fixado em seus conceitos e apenas em “(s)eu mundo”, estará perdendo uma infinidade de manifestações invisíveis, mas mesmo assim, materiais, pois todos os fenômenos citados, são passíveis de serem mensurados apenas por aparelhos.
Portanto, os que se consideram apenas seres “espirituais” em corpo físico, acabam não vivendo este mundo de uma maneira equilibrada, pois seus conceitos e crenças não permitem que se equilibrem frente a dinâmica exigida para quem está aqui vivendo em um corpo, em um planeta, em uma época específica, com determinada forma de existência social. Mas se apenas nos fixarmos na existência puramente material e objetiva, perdemos uma grande parte dos fenômenos legítimos que ocorrem em outras frequências mais sutis.
Então uma pergunta pode surgir: como equilibrar estes dois aspectos existenciais na vida e na consciência, de maneira saudável? E obviamente esta é uma pergunta da qual não se obtém uma resposta fácil, pois vêm acompanhando a humanidade, desde seus primórdios. Verificamos em pinturas rupestres, que os homens das cavernas já buscavam algo além do mundo material como explicação para os fenômenos que não entendiam. E mais recentemente na história, podemos constatar que, por volta do século XVII, tivemos uma espécie de “virada de polaridade”, na busca do equilíbrio, com o advento da ciência e do pensamento cartesiano. Este período histórico se torna interessante, pois foi uma espécie de reação, a um “desequilíbrio de polaridade”, onde as ideias espirituais dominavam e “explicavam tudo” na sociedade medieval, desequilibrando e barrando muitos aspectos da evolução humana. Mas por reatividade, a virada foi tão radical, que pendeu quase que totalmente para a outra polaridade, da ciência materialista. E como consequência, hoje temos em nossa sociedade, polos muito radicais, com espiritualistas e religiosos de um lado e materialista e céticos de outro.
Mas como as polaridades tendem a buscar o equilíbrio, temos também algumas manifestações que buscam conciliar os dois extremos, em algo mais harmônico. Como diz o ditado popular “nem tanto ao céu, nem tanto a terra…”. É desequilíbrio ser religioso ou espiritualista radical, mas é tanto quanto, crer que a vida é somente o mundo físico e que nossa consciência está restrita apenas a seus componentes orgânicos e cerebrais. Tanto o excesso quanto a ausência de Transcendência na vida humana, cega!
Mas e as provas, podem perguntar o cético de plantão? A resposta hoje vem de vários setores que buscam integrar os conhecimentos e avanços científicos, com as questões perenes sobre a consciência. Na Psicologia há os estudos transpessoais, que sempre buscam o aprofundamento do entendimento dos estados ampliados de consciência e a estruturação deste entendimento com a isenção do aspecto religioso dogmático. Na Física, especialmente a Mecânica Quântica possibilita que pensemos em questões mais amplas da consciência e sua relação com a matéria, pois quando estudamos o comportamento do interior do que chamamos de matéria, é impossível não nos voltarmos para as questões espirituais e transcendentes. Nas Neurociências, há várias pesquisas e estudos dos estados meditativos, realizadas em laboratório, com embasamento científico e acadêmico. Ou seja, hoje há a busca do equilíbrio, pois são matérias que podem nos auxiliar na integração dos aspectos polares da existência, ou na busca do reequilíbrio. Na clínica psicológica, por exemplo, as abordagens aqui citadas, hoje fundamentam inúmeras intervenções e possibilitam um trabalho seguro e sistemático com os aspectos polares do ser, que podem estar dosados de variadas maneiras. Algumas pessoas podem trazer questões relacionadas a sua vida espiritual e manifestações de sua transcendência, como, por exemplo, fenômenos dissociativos (“saídas do corpo”, visões etc.) que causam profunda angústia e dificuldade de adaptação ao ritmo cotidiano e nas relações interpessoais. E que frequentemente são “achatadas” pelo pensamento médico e psicológico convencional, pois muitas vezes a patologização e o não entendimento adequado de suas de suas manifestações agrava ainda seus desequilíbrios. Por outro lado, os próprios profissionais de saúde, por adoção de uma postura científica, materialista e dogmática, acabam ignorando as possibilidades e manifestações do transcendente presente na existência humana. Mesmo nos pacientes que buscam a clínica na procura de ajuda psicológica, muitas das angústias, medos e tristezas, se relacionam com o vazio existencial de suas vidas, que se tornam ocas e com ausência de significado profundo, pois têm em seu mundo apenas o imanente (material), superficial, com total ausência do transcendente.
E você, em que polaridade está situado? Como tem equilibrado e integrado estas questões em sua vida?